Gimme shelter porque é baladinha e uma newsletter precisa de um tranco para uma compreensão descadenciada na batida erronea dessicronizada dos saltos de olhos na leitura.
Ivan Lessa morreu em 2012, morava aqui em Londres. A gente chegou a respirar o mesmo ar do oeste londrino por 14 meses o que me deixa muito chateado de não ter a decência de stalkear tal sujeito para um café, um cigarro e uma conversa aleatória.
Mas a minha vida é sempre no espírito da escada1 eu só tomo conta do tamanho da importância quando o bar já está com as cadeiras viradas em cima das mesas.
O livro crônica de londres é sensacional e eu sinto muito essa perda 12 anos depois.
Bertrand Russell largou a seguinte patacoada: “Primeiro, eles fascinaram os tolos. Depois, anuviaram os inteligentes.”
Era sobre o ideal fascista que aparecera por aí.
Bertrand Russell foi um daqueles velhos sibaritas dogmáticos e pragmáticos que eu gostaria de bebericar um chá, fumar um paiêiro e escutar todo o resmungo e chiste em inglês cadavérico do video abaixo:
Mas, também é outro doidivanas que só posso reclamar que não o conheci a tempo.
Já que essa newsletter está no mood obituário há algum tempo, morreu a lenda do design automobilístico Marcello Gandini, o cara que sabia desenhar um carro tal e qual uma peça de obra de arte.
Antônio esperava no alto da escada rolante do shopping. A escada ressonava um gemido baixinho, de um gip-gip-nhéco-nhéco cansado. Exalava cheiro de graxa requentada.
Sara acenou para ele do térreo e continuou sorrindo enquanto subia na direção do rapaz. Trocaram dois beijos na face e começaram a andar um ao lado do outro enquanto conversavam.
"Sabe por que ele nos mandou fazer isto?" "Tenho meu palpite, mas não ligo se confirmar ou não. Atuo e procuro fazer bem meu trabalho, este que paradoxalmente não é trabalho algum. Você sabe... Tanto faz o que a gente fizer, depois a gente volta pra caixa mesmo... Ele mandou essa fita. Acho que vai explicar melhor".
Ele tirou uma fita K7 do bolso; ela colocou no walkman e encostou em dos lados do fone no ouvido.
“Acho meio brega esses roteiros em fitas, parece clichê de filme antigo de espionagem” "Quando ele gravou pra você?" "Não tá vendo que foi agora a pouco? Silêncio um pouco. Deixa eu escutar (...) Hmm sim, beleza"
Entraram em um cybercafé cheio de computadores vazios e desligados.
"Você quer que eu me sente do seu lado?" "Não. É bom que a gente fique em computadores separados. Vá ali pro fundo "
Antônio já estava no canal de Mirc, Sara entrou logo após. Ele com o nick de <{[Blue_velvet]}>; ela como ¯`·._.·✰pure_girl✰·._.·´¯
<{[Blue_velvet]}> Oi gata
¯`·._.·✰pure_girl✰·._.·´¯ oi gato
<{[Blue_velvet]}> De onde você tecla?
[ meia hora de amenidades depois ]
<{[Blue_velvet]}> Engraçado esse nick
¯`·._.·✰pure_girl✰·._.·´¯ É, eu sou uma garota puta
<{[Blue_velvet]}> hehehe. Como é que é?
¯`·._.·✰pure_girl✰·._.·´¯Afe, eu escorreguei o dedo e saiu puta em vez de pura, chatooo
[anos de mais amenidades, encontros, festas de forró, casamento e filhos (...) Antonio morreu em 2059, Sara em 2072, fim! ]
***
Antônio caminhava pisando nas bolas vermelhas dos ladrilhos, Sara seguia ao seu lado apática, meneando a cabeça suavemente, olhou para Antônio e reclamou.
"Não entendi" "Hmm?" "Para que serviu a gente representar essa história torpe? Não ocorreu nada de extraordinário, nenhuma metáfora fantástica, nenhuma alegoria memorável. Foram toneladas de clichês entorpecendo o entendimento de qualquer espectador, que já deve ter pulado para o próximo reels e amaldiçoado o tempo gasto pra ver nossa live" "Mas o roteiro inicial não foi seguido. Haveriam cenas desencontradas. Você teria que dar o cano no primeiro encontro, e eu sem querer atropelaria o seu primo na saída do shopping. Um ano depois haveriam revoadas de abelhas na chácara da minha avó, onde nós dois nos revearíamos e juntos constituiríamos uma metáfora sobre as colméias e a união, um facho de luz do poente na lagoa em 2031 iria..." "Não, pula isso, que besteira. Ninguém quer ler essas ilustrações, esse cansativo rosário de cenários e situações. Ninguém tem mais tempo e paciência para interpretar a gente, entende? Já nem deve ter mais gente nas lives nos espiando" "Mas foi por isso mesmo que mudei o que seria inicialmente. O produtor me deu a autorização de moldar o que me conviesse. Agora pare um pouco e veja por aquele vidro retangular. Está vendo? " "Hmm... Sim... É um rapaz, uma moça, um velho ou... " " Não. Nenhum deles e todos eles. Esse ser dismórfico metafísico é um coletivo espectador, é o ser que está nos vendo; aquele vidro se chama tela de celular e ele está tentando entender o que o autor quis dizer através de nossa história" "Não há nada para sacar nem entender, não é?" "Mais ou menos, eu enchi o saco de ficar me expondo para avaliações alheias. Desta vez achei mais divertido interpretar o que ele(a) pode estar fazendo agora ou o que fez no meio de nossa conversa" "E o que você acha que pode ser?" "Olhe neste momento. Agora ele está congelado para nós assim como normalmente nos somos congelados para ele(a), porque sempre estaremos aqui estáticos. é o botão de pausa. Que nem é mais um botão fisico, apenas duas barrinhas ali pintadas no meio do vidro escuro. Ele pode abrir ou fechar esta tela quando quiser e sempre verá nossa história sendo repetida. Acontece que agora ele(a) está congelado para mim e sei que ele(a) está neste momento com um teclado aberto entre os dedos, abaixo da tela, e pode ser ou não que ele tenha olhado para baixo e visto se a letra "r" fica perto"da letra "t" que de outro modo não poderia se justificar que você sem querer teclou puta ao invés de teclar pura" "Hmm... sim. Ele pode agora se desviar da gente e ficar observando como puta é próximo de pura, como a letra "r" é encostada na letra "t" no teclado. Estou vendo ele(a) olhar. É... De fato é divertido variar e olhar ao invés de sempre ser olhada" "Ele foi me procurar no OF, que filho da puta" "Tá... Tá... Agora falamos demais, daqui a pouco a gente volta pra caixa" "Até lá vamos tomar um sorvete? " Sara sorriu "Vamos"
Micrognatismo Revisited
O orvalho vem caindo
Vai molhar o meu chapéu
E também vão sumindo
As estrelas lá no céu
Tenho passado tão mal
O meu consolo
É uma caixa de Frontal®
In: Prata Galvês - Consulado Esquizo - Ed. Cassacova 1975
Guimarães Rosa, ao saber que Fernando Sabino continuava escrevendo crônicas, lhe disse: ‘’Não faça biscoitos, faça pirâmides’’.
"L'esprit de l'escalier" ou "L'esprit d'escalier", cuja tradução literal seria algo como "O espírito da Escada".
Ela representa pensar em uma resposta esperta quando já é tarde demais. A frase pode ser usada para descrever uma resposta a um insulto, argumento ou comentário inteligente ou esperto do interlocutor que chega tarde demais para ter alguma utilidade.
Depois de ir embora, (descendo a escada da tribuna - daí a origem da expressão), encerrar o encontro (tarde demais) a pessoa encontra a frase justa que teria sido a resposta necessária para seu oponente. O fenômeno é geralmente acompanhado por um sentimento de arrependimento por não ter pensado na resposta quando ela mais era necessária ou adequada.
O espírito da escada também poderia ser uma frase que poderia ter decidido a discussão se não fosse pelo fato de já ser tarde demais.
A expressão foi usada originalmente no livro Paradoxe sur le Comédien de Diderot.