Para ler, ouvindo: Marcelo Cego invertendo as subidas na tuba. Quase um chorinho, mas não se iluda, é hino da ccb (Congregação Cristã Brasileira) que tem umas tocatas espalhadas pelo Brasil e os silviteiros são brabos e sérios tal e qual os colecionadores de pássaros cantores de torneios:
“Quem não tem inimigos é porque não merece ter amigos, nem reputação ou importância junto das outras pessoas.”
—— Pedro Bandeira Freire
A escrita literária criativa não sei se existe. Essa conversa de que tem que se ler muito para ser um escritor das pitombeiras não é muito do meu agrado; já conheci escritores da metodologia e dialética perfeita sem um pingo de fluidez atrativa nas palavras milimetricamente lapidadas. E tomei ciúmes de uns outros matungos espantalhos gramaticais puros na essência da arte de contar lorotas.
Pois eu cruzei uns dias desses com o curso de escrita criativa: técnicas e práticas que bem parece os cursos picaretas fictícios que eu tomo dinheiro prego no meu Substack Premium® Coaching Quântico (§2º; Inciso III)
Indico, e com todas as forças. fi-lo? não. Conheço os tutores? não. Tem o Karnal que é um coach; mas ele parece ser daqueles coaches labradores sorridentes mais tranquilos do que perversos; Por que recomendas então, ó coaching quântico? oras, qualquer coisa que ajuda não atrapalha. Vai lá, é gratuito.
Eu não fiz porque peguei birra do termo ‘Skills’ na página, que algum jr deixou no lugar das ‘habilidades a desenvolver’.
De resto, é de graça. É como se você tivesse sido enganado financeiramente por um coach falastrão, mas sem perder dinheiro. Tem o gostinho do truque sem o fél da subtração financeira. E lembre-se que toda universidade tem cursos online gratuitos e algumas por um punhado de dólares lhe concederá um garboso diploma de feitio cursivo.
Quem gosta de viajar virtualmente (sem ter que gastar estresse e cabelo com perrengues, gasolinas e hotelarias purguentas); conheça o projeto do barco Tupaia, um casal incrível que conheci quando desbravava o terreno pedregoso das patagônias do sul.
Lauric & Nao são o tipo de exploradores fora da curva. E reúnem raras características que não se bicam de jeito nenhum: criatividade, coragem, curiosidade e bom senso estético-artístico-minimalistico.
Se você não tem paciencia com nada entao assista só esse trecho:
Nas sendas digitais da escrita, somos todos mercenários da palavra? Eis a inquietação que me assola. Acaso o bancário, em seu cubículo de vidro e aço, dedica oito horas diárias à matemática dos outros por puro altruísmo? Aliás, o TB – Técnico Bancário vai sumir do mercado? Aplicativos financeiros matariam esse ofício de boca-de-caixa? Ou o político, em sua retórica infindável, serve à pátria sem pensar nos cofres? Não, meu caro. Neste mundo de concreto e fibra ótica, todos somos servos do vil metal reluzente.
O cerne da questão não jaz no repúdio ao dinheiro - esse fantasma necessário que assombra nossas vidas. O enigma reside em não nos prostituirmos por ele, em sermos capazes de tecer palavras mesmo quando as moedas não tilintam, em enobrecer cada centavo ganho com a tinta de nossa alma.
Confesso: escrevo por vaidade. Anseio ver meu nome brilhar na tela do telefone, no corte do podcast, minha cara carrancuda circular nas redes sociais, minha entrevista ecoar nos tapas dos demiurgos em newsletters reacionárias. Na piaui, na Ilustrada. Acho que ainda existem esses negócios impressos. Quem, neste palco de egos inflados, não deseja o aplauso? Eu o desejo, e com fervor. Chame-o de vaidade, orgulho, ou amor-próprio - é o combustível que nos arranca da cama nas manhãs gélidas, quando a conta bancária grita em vermelho. Mesmo quando a caneta não esteja a grifar letras e sim desenhar apresentações para uma patotinha engravatada do outro lado do planeta.
Escrevo por missão, embora esta nem sempre seja a que imaginei. A vida, esse oceano de algoritmos e coincidências, leva nosso barco digital para portos inesperados. Temos o teclado e temos as ideias, mas controlar o vento da inspiração? Jamais. Por vezes, descobrimo-nos melhor nas linhas que não planejamos traçar. Venha inteligência artificial, chupar até o caroço de todos os estilos literários de todos os escritores – famosos ou não. Mate-nos, mate-nos com sua irracionalidade fria e perfeita, adaptada e lustrada e polida centenas de milhares de vezes na leitura e releitura e na adaptação da sua capacidade infinita de se aprimorar.
E, ah, escrevo por prazer! Como diria o velho Nelson Rodrigues, adaptado aos nossos tempos: sem sorte, ninguém consegue sequer um like. Eu digo: sem prazer, ninguém conjuga um verbo no universo binário. O prazer não é constante - escrever pode ser um deserto de pixels. Mas se é o seu chamado, há sempre a promessa de que no próximo parágrafo, as palavras se alinharão como estrelas, produzindo aquela epifania digital que tanto buscamos.
O prazer, meu caro leitor (que eu não tenho ideia do que é que lhe atrai nessas palavras dispersas – agora a minha no fato), é sempre possível. Basta esquecer o dinheiro, a vaidade, a missão, e continuar a digitar, incansavelmente, neste vasto vazio inexistente de virtualidades e possibilidades.
O caba reside num país dominado por um fascismo burocratizado. Tardinha da noite, ele está meio perdido num bairro miserável, periférico, tentando voltar para casa. Tenta passar despercebido, nas sombras. E nessa hora ele pensa: “Não que houvesse algum regulamento contra o regresso ao lar por um caminho diferente, mas isso bastava para chamar a atenção da Polícia do Pensamento”.
O trecho é de 1984; Quem diria que aquele velho lunático estaria descrevendo com tanta precisão o cotidiano do nosso Zé Povinho v2014? Ele bem ilustra um princípio básico dos governos totalitários: “Por que esse camarada está fazendo algo de um jeito diferente? Que som foi esse que saiu meio atravessado dessa garganta rouca?"
Rememora-se um antigo adágio: "Sob o jugo da tirania, não é o déspota que mais amedronta, mas sim o sentinela da esquina". Quando um país se encontra sob o domínio de um tiraninho, qualquer guarda ou miliciano em seu posto local torna-se senhor absoluto de seu perímetro. As decisões não emanam do autocrata distante, mas sim deste funcionário subalterno, sujeito a seus caprichos, idiossincrasias e variações de humor. O verdadeiro perigo do autoritarismo reside no fato de que cada vigia de rua encarna, em sua própria essência, o espírito do tirano supremo. Eles têm seu próprio tribunal, eles tem a urgência na decisão; eles agem, eles punem, eles vigiam.
Observe-se a efemeridade dos regimes autoritários. Papa Doc, o famigerado "vampiro do Haiti", outrora personificou a maldade em um tempo bem que meio recente. Seu poder se desintegrou, e foi sucedido por seu filho, Baby Doc, um homem corpulento adornado com ostentosos colares de ouro. Sabe esses uniformes quase caricáticos de filmes falastrões? Ali era a real indumentária. O destino de Baby Doc não foi diferente, e eis-me aqui, ainda vivo, utilizando-os como metáforas de si mesmos. Acho até que foi a Airstrip One (American Edition) que ajudou com um punhado de pesetas. Apenas o Haiti permanece inalterado, assemelhando-se àquelas almas vampirizadas que nem mesmo a estaca no coração de Drácula nem um terremoto avassalador consegue resgatar para o mundo dos vivos.
Os aparatos de segurança, como ilustrado na obra "1984", empregam métodos sofisticados para induzir os dissidentes a se exporem, tornando-os visíveis e vulneráveis à guilhotina da repressão. Pode deixar xingar um pouquinho na internet. Eles latem como hienas ao redor de leão. Uma mordida aqui, outra ali, quando menos percebem-se criaram uma falsa confiança que são, de fato, mais fortes e bravios que aquele felinão jubento abobalhado. O regime autoritário mais eficaz é aquele controlado por tecnocratas, indivíduos de imaginação fundamentalmente analógica e caráter essencialmente venal. O totalitarismo exige previsão, planejamento e controle do futuro. Tempo, agenda, paciência. A futilidade e a velocidade da tecnologia é uma arma nova. Afobada, instantânea, fale primeiro, corrija depois. Os tecnocratas não se deram conta. Seus Baby Docs sim; esse são o perigo. É imperativo não apenas conhecer a localização atual de Winston Smith, mas também antecipar onde ele estará e o que fará em uma data futura específica. É necessário tabelar as médias e assinalar os desvios. Seu IP e sua geolocalização são o ouro em pó do garimpeiro de aluvião.
Em um cenário de controle tão rigoroso, o mero ato de retornar ao lar por uma rota alternativa desperta suspeitas, sendo interpretado como indício de comportamento desviante. Tal situação evoca o conto "O Pedestre" de Ray Bradbury, onde o ato de caminhar pela calçada, embora não explicitamente proibido, é considerado anômalo, justificando a detenção e "tratamento" do indivíduo. Ou ainda, remete-nos a "O Estrangeiro" de Albert Camus, onde o protagonista se vê julgado não apenas pelo homicídio que cometeu, mas também por sua aparente indiferença no funeral de sua mãe, divergindo assim do comportamento socialmente esperado. Hoje, o paralelo é o diferentinho que usar Gettr, o Parler, o Telegram, o Twitter encapadinho no VPN. Não que seja errado, longe de mim. Nada fora do normal, bem de boa. Não há um regulamento contra, mas que chama um pouquinho a atenção, ah, mas nada assim que óh, a gente vai te chamar para uma conversa. Talvez um chá mas nada demais não se preocupe.
Conta ponto:
- A trilha sonora de primeira;
- Escrever 'skills' na página de um curso de escrita em português com certeza depõe contra a qualidade da oferta. Muito bem observado.
- Tupaia é o famoso "breath of fresh air" no youtube. Me morro de raiva da japonesa Nao. Tenho ciúmes e inveja, porque eu queria mesmo era ser e fazer como ela.
- Escrevo pra desembolar as minhocas que se enovelam na minha cabeça, mas isso gerar moedas tanto melhor. Afinal a gente repudia o capitalismo, mas vivemos nele.
- Não é só quem ganha na loteria que deixa sinais e indícios.