"Mostre-me um puritano e eu lhe mostrarei um filho da puta".
W.C. Fields (In: Diatribes Torpes-Um drible. Ed. Arlequim Azul, 1910)
Em homenagem aos comentaristas de guerras, conflitos e atrocidades nas minhas redes sociais. Eu conheço vossos corações, vossas sutilezas e vossos desvios de caráter. Imundos. Sei porém que fica o feito precário do salto mal calculado sobre tubarões e restará aos outros o azorrague da opinião barata, o soluço do triciclo sobre palitos de dentes.
A mentira – prostitutas do obtuso – a mentira é a falta de assunto, a falta de energia de viver e a falta do que rechear aquela hora vazia que faz vocês baterem a cabeça na quina da mesa.
A hora vazia é a hora mais fria.
É a hora mais escura.
Resolveu-se que tiraria a vida; corre a vontade assim, não tem jeito, quem senão as próprias manias e as fracas químicas desbalanceadas para ditar o que não fazer ao certo?
A vida é efêmera. A morte é fácil. Complicado é o tudo o que fica para trás.
Foi; fê-lo. Não entendia mais o porquê dos joelhos frios, molhados e prostrados nas pedras do passadiço. Não lembrava porque era o choque, era a falta de sangue aerando as ventas. O chão úmido refletia algumas luzes difusas das vitrines de roupas cafonas. Uma atraente garota caminhava em direção oposta. Não para socorrer, não havia a pressa essencial naquele passo. Não desviava o olhar, todavia. Esboçava um sorriso gostoso, dos dentes alinhados, não tinham as pontas os seus caninos. Ria-se com os olhos. Um vestido sedoso que se baloiçava com os saltitares quase em uma dança valseada harmônica.
Os olhos pesaram, a respiração dificultou. Demorou. A mente respondeu opaca e difusa. Não sabia que hora iria, como faz para morrer? Não sabe nem se isso ja foi a morte e ele agora é um fantasminha de lençol sem personalidades. Ela era muito cheirosa, aquela garota. Ela encostou as pontas dos dedos no rosto dele; as unhas passearam na pele e na barba por fazer, farfalhando um barulhinho ósseo de pequenos estalinhos.
As luzes das vitrines apagaram-se, uma a uma. Tinha um rangido enferrujado e estridente em algum lugar. Uma pesada nuvem encobriu a lua. Os poucos e fracos postes desapareciam na escuridão.
Morrera de joelhos, e nunca soube ao certo se sucumbira ao chão úmido e gelado da noite de ópio por um desatino daquela garota pelotiqueira.
Morrer-se foi um acabar por sê-lo outro, totalmente.
Morreu-se de forma biltre e covarde; uma entrega integral à vida, quando menos a queria. O cadafalso ocupou-se com o resto.
(SPEGEL R in: Opio, página 23, ed. 2003 revisada)
Paysage Fauve
Les arbres comme autant de vieillards rachitiques,
Flanqués vers l’horizon sur les escarpements,
Tordent de désespoir leurs torses fantastiques,
Ainsi que des damnés sous le fouet des torments.
C’est l’Hiver, c’est la Mort; sur les neiges arctiques,
Vers le bûcher qui flambe aux lointains campements,
Les chasseurs vont fouetant leurs chevaux athlétiques
Et galopent , frileux, sous leurs lourds vêtements .
La bise hurle; il grêle; il fait nuit, tout est sombre;
Et voici que soudain se dessine dans l’ombre
Um farouche troupeau de grands loups affamés;
Ils bondissent, essaims de fauves multitudes,
At la brutale horreur de leurs yeux enflammés
Allume de points d’or les blanches solitudes
***
Agora a empenhada e livre tradução de soneto do famoso poeta québécois Émile Nelligan, cometida com sucesso após egresso do mais belo principado pugliese que se tem notícias:
***
Paisagem Feroz*
Como parecem, as árvores, velhos raquíticos,
Enfileiradas a mirar o horizonte escarpado,
Curvados em desespero seus troncos magníficos,
Qual látego torturante sobre o dorso condenado.
É o Inverno; é a Morte; sobre a neve inclemente,
Para o fogo que esquenta um longínquo acampamento,
Rumam caçadores açoitando a montaria imponente
Galopando, congelados, sob o pesado indumento.
A brisa ulula; é noite; tudo é sombra; está nevando.
Súbito, desenha-se no escuro um faminto bando,
Um alcatéia de animais ferozes e imponentes
Pulam enxames selvagens de cada lado
E o horror brutal dos olhos reluzentes
Pisca em fulvos pelo branco desolado.
*Fauve significa duplamente ‘selvagem’ e ‘fulvo’
Fui na Itália refrescar um pouco as ideias. Apúlia, para ser mais preciso, onde retratei o casamento abaixo:
Note que eu: 1. não era um conviva; 2. não era o retratista contratado. Foi um caso paparazzo cercado do direito de uso do verbete em dialeto local.
Não sei ao certo o que eu esperava ali do calcanhar da bota italiana, para ser sincero. A região é um açoite sobrivencialista de vida, quase um suspiro cheirando à figo quente de sol.
Um dia desdobrarei melhor as impressões.
Tenho uma lista de entulhos excêntricos virtuais no wishlist do eBay. Muita coisa provavelmente nunca avisará disponibilidade. Pois bem um dos cacarecos era um CD do CSNZ – Da Lama Ao Caos. Pedi para me avisar 5 anos atrás. Pois bem e não é que apitou o sininho em um sebo local; £2.39 com frete incluso; plau. Recebidinhos, meninas, aqui em casa o CD que tanto queria. Só falta o Afrociberdelia para completar a coleção.
Da lama ao caos, a profecia:
Computadores fazem arte
Artistas fazem dinheiro