Para ler, escutando: Zamrock 70’s, uma mistureba de rock, psy, funk e soul. No coração da Zâmbia. Que era uma colônia Inglesa então tem um pinch of salt na doutrinação mas vá lá: o resultado é estonteante.
A filosofia barata é deliciosa. Encaixa perfeitamente. Tende ao acerto igual a metodologia do bem-estar coringa de um horóscopo. Esquenta, anima, conforta. É volúvel como um mantra repetido por centenas de vezes e que não fixa. Fácil de acreditar, fácil de esquecer.
O problema é que ela não ajuda e não muda. O gelzinho gosmento em que eu flano, feito de um ágar vencido, não muda de densidade. Esse é o preço do preço barato da filosofia rala: não me faz raciocinar.
Se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma você está certo. — Henry Ford
Jamais vou experimentar o sucesso pleno. A sensação do completo e da missão cumprida.
E quer saber o por quê?
Porque mudar dói. trocar a inércia da certeza por uma turbulenta dinâmica é estressante. Trocar o que é bom por algo que possa ser melhor (ou o desastre total do fracasso inerente) é um sacrifício. É mudar a perspectiva, ampliar o horizonte, sentir o medo de entrar em um nevoeiro espesso e desconhecido. Viver uma vida extraordinária é abandonar a atual vida normal. É neste momento que o freio da razão me priva e o sentimento de impotência toma conta de tudo. E não é impotência, no final das contas.
A questão mais importante que alguém pode perguntar é: Qual mito eu estou vivendo? — Carl Jung
Viver é fácil, evoluir dói; deixar as crenças em um barranco, abandonadas é algo horrível. O apego que se perde por algo que se creu intensamente. Abandonar uma crença é deixar um buraco oco dentro da sua consciência.
A filosofia barata tem a ver com o mundo ao meu redor. Com os comentários pretensiosos, com a sátira ferrenha quando o momento pede seriedade. O pix feito para o bandido do Zap. Você caiu porque acreditou que seu filho bem-sucedido precisava pagar uma conta altas horas da noite. R$230 reais era a conta. Como não percebeu né. Era a foto dele no contato. Ele tinha trocado de telefone porque deu problema na operadora. Essas coisas acontencem.
A filosofia barata tem a ver com a pesquisa equivocada, com o martirismo fajuto, com a tradução mal feita, com o texto mal interpretado, com a crença em tudo que está postado. A fake news? Ah, a fake news! O título do tablóide – todo pretencioso – isca de clique, pega-louco total. O crível, acreditado pela boa fé de que aquele site pulguento estava falando a verdade, sim. O sangue no olho que dilata a pupila e pulsa a pálpebra de modo incontrolável.
A filosofia barata do populismo. Do populista, do mártir, do Sassá salvador da pátria, do defenestrado, do ganhador e do derrotista. Da indústria do medo.
Estou cercado por mantras loucos. Por gente que procura a complexidade quando a resposta é apenas a simplicidade da clareza. Por que você não cobrou por isso? Por que você não ganha dinheiro com isso? Por que você não larga essa vida? E se você fizesse assim? E se? E se. Gente que enxerga demais. Que reclama demais. Que se preocupa demais. Muita coisa não tem razão, muita coisa não precisa de razão.
O mundo é um barril de pólvora.
Aliás.
O mundo é um barril de pólvora e todo dia um esperto acorda com a consciência de que vai passar a perna em um desapercebido.
A filosofia barata é um vírus cheio de tentáculos grudentos ávida por um compartilhamento de conteúdo-podre na rede social favorita.
É aquele conforto quentinho quando todo mundo balança a cabeça em um movimento longo e lento de afirmação resignada quando o velho sibarita reclama da fila interminável do banco em um dia chuvoso de verão. Ninguém quer saber, ninguém vai apoiar o levante. Mas balançam a cabeça. Balançam, e isso dá um ânimo sem peso algum para ele continuar reclamando. E todo mundo continuar balançando a cabeça em um moto contínuo de vida sem alma.
A inversão de valores faz parte dessa baratoada. A falta de valores também. O aplauso para o carrasco, o choramingo por mais um adultério, a agressividade por mensagem instantânea e a briga nas caixas de comentários estão aí para estourar sua veia miocárdica.
Existe uma coisa que me arrependo muito. Não ter estudado o quanto deveria. E não ter estudado um monte de coisas a mais. Queria saber tocar violão. Mas queria saber tocar violão desde os 11 anos de idade e não aprender agora, quando o cérebro já está a perder a gordura dos axiomas e fechando as portinhas do cloud storage. Ou aprender filosofia ou história ou geografia. Física e a parte elétrica para criar uns componentes maneiros e entender uns chaveamentos elétricos que agora são sofríveis para entender.
Um amigo finlandês me disse que existe uma palavra para pessoas que começam a estudar muito tempo depois que deveria: Opsimath. Tentei traduzir para ‘andragogia’ mas preciso estudar muito tempo depois sobre o assunto para entender as diferenças.
Já que os OVNIs estão na berlinda da notícia fimdomundista: Existiu uma alucinação nacional no passado televisivo chamado ET Bilu. Foi a tempestade perfeita. Barrigada da imprensa com o charlatanismo em seu estado mais puro e belo.
Quisera eu conhecer o etezinho na minha adolescência e que ele me desse a fita: Busquem conhecimento.
Não sobre a picaretagem, mas sobre o conhecimento.
Sou profundamente triste por não conseguir ir além do normal. Pode ser uma preguiça e canseira de alargar as banhas das baínhas de mielina para alocar mais dados complexos.
Ou não ter umas ideias maneiras sem acento no ‘i’.
Pode ser falta de criatividade, até – criatividade é finita.
Mas com certeza falta conhecimento.
E quando falta o conhecimento, a filosofia barata aparece. Rodeia em seu próprio eixo umas 3 vezes e se aninha igual a um cachorro sarnento.
Parte do discurso inflamado da primeira reunião dos camaradinhas insossos – citando Henry James – ante à fundação do Clube Literário Vuturuvu dos Bento:
“We work in the dark – we do what we can – we give what we have. Our doubt is our passion and our passion is our task. The rest is the madness of art.”
E terminando com o singelo: Quem de si faz alarde, cedo o rabo lhe arde.
Gostei da batidinha da Zâmbia. E sempre que minha mãe chama filosofia barata de filosofia de parachoque de caminhão. Sábia, ela.