Machado de Assis
O que você vê é tudo o que há.
Durante um sarau literático na finada fLiP Paraty, adentrei em vias de fato em um pugilato estóico quando defendi o teorema de que Machado de Assis era um autor regional, pois descrevia apenas a rotina vivencial das pessoas de sua região – a cidade do Rio de Janeiro geolocalizada. E, com a exceção de alguns contos fantasiosos situados num oriente exótico e de O Alienista que lambe terras em Itaguaí, a obra Machadiana se esparrama sobre a comarca fluminense de forma impermeável.
E porque falar de Machadinho, agora? Oras, porque a Courtney Novak levou um petardalhaço brasileiro quando leu Memórias Postumas e agora Dom Casmurro. Conheceu o like em massa quando atiçou as formigas de correição. Babou de escorrer saliva no canto da boca. Entrou em êxtase literário, algo cada vez mais difícil de alcançar quando se lê muito.
Voltando à troca de socos e petardos na FiLiP Paraty; fui recebido com vaias e tomatadas na cara com o preconceito que as pessoas imbuíram no termo ‘regional’, porque quando alienei ao Machado e a sua obra, a resposta foi enfática e uníssona: Machadinho não é «R-E-G-I-O-N-A-L». Ele é ““U-N-I-V-E-R-S-A-L””. Claro, concordo, mas por que motivo não levamos Guimarães, Graciliano, do Rego, Rachel, pela mesma régua e ótica, ao pedestal da universalidade?
A escolha velada de utilizar "regional" como oposto de "universal" surge da confusão entre o conceito de "regionalismo" e uma de suas formas, a literatura que eu denomino de "Ficção Etnográfica". Neste tipo de literatura, há um louvável – e inegável – esforço em registrar os aspectos históricos e geográficos específicos de uma determinada região. São documentados nas minúcias os modos de produção agrícolas e pecuários, os costumes, o linguajar, a cultura, as crenças, assim como aquilo que Lukács descreve como "personagens típicos vivendo situações típicas". Também são registradas a flora, a fauna, o artesanato e o folclore, criando assim um amplo panorama onde a comunidade pode se autodescrever de forma inesgotável.
Embora nem sempre essa literatura tenha um grande valor literário, isso não significa que seja desprovida de valor completamente. Em outro país ou em uma época futura, um romance desse tipo pode se tornar um documento valioso sobre a cultura de um povo. No entanto, um escritor que se limita a esse tipo de abordagem corre o risco de perder a perspectiva da universalidade. Ao se concentrar somente em retratar situações e personagens típicos, ele acaba restringindo sua própria imaginação, criando personagens e situações genéricos, medianos, meras reproduções pálidas do já conhecido.
Para alcançar o universal, é necessário adentrar mais fundo na essência da vida, explorar um núcleo doloroso e selvagem que seja comum a todos nós. Isso envolve lidar com personagens que representem pontos de tensão e transformação na narrativa, que incorporem várias possibilidades simultâneas em vez de simplesmente seguir o caminho já trilhado pelos personagens de escritores anteriores.
Ao se concentrar exclusivamente no detalhismo etnográfico, por mais louvável que seja, corre-se o risco de perder o verdadeiro sentido de universalismo, que paradoxalmente emerge das situações extraordinárias e dos personagens excepcionais. A obsessão em abranger a maior gama possível de temas faz com que o "regionalista" deixe de explorar mais profundamente e de alcançar os significados mais universais. A associação entre regionalismo e ficção rural acontece muitas vezes devido à distorção profissional dos críticos que, limitados ao ponto de vista urbano, consideram a cidade como o centro de tudo, relegando as demais regiões a um segundo plano pouco nítido.
Grande Sertão: Veredas foi editado pela primeira vez em Portugal, depois de 60 anos da primeira edição brasileira. Editado e adaptado, mas não modificado. Em português, mas agora de Portugal, atravessou o oceano, é internacional, é uma obra universal. Reinventa a língua portuguesa e a reescreve ao ser editada. Fez tal e qual José de Alencar. Machado de Assis não, ele era um escritor clássico. Rosa rebuscou um português exótico, de neologismos belíssimos. Das tentativas que são perfeitamente assimiláveis, decididas em inventar a língua portuguesa por arrogância porque acha que chegou ao ponto semelhante de figuras como Camões, Shakespeare e Dante. Das tentativas arrogantes em tornar o português uma espécie de língua que transcendesse as próprias circunstâncias geográficas e históricas.
A universalidade pode ser muito traiçoeira. E essa necessidade de afimar, elevar e endeusar o nosso mundinho como um arauto da obra-prima essencial é bem perigoso. As vezes pode até funcionar, é verdade. Mas tem muita vida seca nesse mundo que é uma monstruosidade literária regional e que nao prega nas paredes porque tudo é muito esterelizado.
The Who – uma maneira pratica de espancar pandeiros, também em 4K no Youtube porque aparentemente filmaram essa technicolor em 35mm.
Mais uma morte para a lista dos inolvidáveis personagens que viviam e que eu gostava Daniel Kahneman, que mudou para sempre a psicologia e a economia, deu o peido-mestre aos 90.
Alguns recortes sem muito contexto das suas presepadas mundanas, traduzidas livremente pelo R-AI®, meu serviço de inteligência artificial mental:
Nada na vida é tão importante quanto você pensa que é enquanto pensa sobre isso.
Somos cegos para nossa cegueira. Temos pouca ideia de quão ignorante somos. Não fomos projetados para saber o quão pouco sabemos e esse é núcleo da nossa irritabilidade.
Geralmente, somos confiantes em nossas opiniões e impressões e julgamentos. Aliás somos excessivamente confiantes e cegos.
Seu estado emocional tem muito a ver com o que você está pensando e no que está prestando atenção.
Há muita aleatoriedade nas decisões que as pessoas tomam. Uma teoria do caos a cada aceitação ou negação.
Os economistas pensam no que as pessoas deveriam fazer. Os psicólogos observam o que elas realmente fazem.
O que você vê é tudo o que há.
Se você quer parecer inteligente não use linguagem complexa onde uma linguagem simples pode ser usada.
Uma boa maneira de fazer as pessoas acreditarem em falsidades é a repetição frequente, porque a familiaridade não é facilmente distinguida da verdade. Se a repetição vier de fontes diferentes em momentos próximos então você tem uma nova verdade.
É maravilhoso ser otimista. Mantém a gente saudável e resiliente.
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Outrossim, preciso trocar meu automóvel, que completa 2 anos de idade e perdera o cheiro de carro novo.
Aumentarei a mensalidade premium de R$49,90 para R$69,90, por favor não cancelem assinaturas.




